HISTÓRIA

O Ensemble funda-se em 1996.

Muito cedo nas nossas carreiras - anos 70 - percebemos que a cidade precisava em absoluto de novos espaços, novos e mais exigentes públicos, projectos mais sólidos e melhor formação. As nossas ambições pessoais passaram sempre por essas prioridades. Tentámos durante anos, primeiro no histórico Tep, e depois noutras companhias que ajudámos a criar, onde os actores estavam mais próximos da iniciativa e da decisão, como o Tear e Os Comediantes. Ensaiados ou propostos vários modelos de cooperação, de união de esforços, de rentabilização de recursos, por iniciativa das companhias ou do Estado, mas sem que este último alterasse o seu gesto de desprezo pelo que se passasse fora de Lisboa, chegou-se a 1996 sem resultados positivos e com as companhias desagregadas.

Nem todos os profissionais se tinham afastado da actividade. Uns integraram projectos de televisão e cinema, outros desenvolveram actividades profissionais paralelas, ensino, dobragens, etc., mas o certo é que a quase totalidade dos actores profissionais - duas dezenas - deixou de ter qualquer vínculo em companhias, e trabalhava como independente. A maioria dos actores profissionais mais experientes raramente eram vistos nos palcos, sendo conhecidos pelas gerações mais novas como actores de televisão ou cinema, professores ou dobradores.

Por outro lado, as experiências das montagens episódicas provavam não contribuir para uma solução positiva dos problemas de fundo, muito pelo contrário. A oferta de espectáculos de teatro na cidade tinha piorado muito no que respeita à qualidade.

Tinha-se do Teatro a ideia de que "o que é preciso é fazer". A mediocridade tomara conta dos poucos espaços disponíveis; e criara-se a ilusão de que havia muito teatro - ao comparar com os anos 80. Nada mais errado. Nem sequer se fizeram muitos espectáculos. E seguramente nunca se fez tão pouco teatro. Também o debate das questões fundamentais do teatro não passava muito por aqui. Apenas meia dúzia de conversas sem consequências práticas à volta de realizações pontuais, como os festivais. Urgia também obviar ao atraso/recuo que se verificava na discussão desses temas, numa época de vertiginosa evolução de conhecimentos e valores.

Quanto à formação continua dos actores profissionais, tirando os seminários e workshops que promovíamos nas escolas, não havia no Porto um espaço de investigação, tendo os actores, nas raras oportunidades, de se deslocarem a Lisboa ou ao estrangeiro para o conseguir. Os trabalhos experimentais realizavam-se eventualmente nas áreas complementares das produções de espectáculos, quando era possível.

Os espaços em 1996:
1 A Câmara tinha comprado o Teatro Rivoli (1989) que estava em processo de remodelação. Previa-se um espaço aberto a projectos diversificados tanto do teatro, como da música, bailado e cinema, em polivalência, co-produzindo, mas sem dispor de companha residente.
2 O Estado comprara e equipara o Teatro Nacional S. João que, contando embora com os quadros técnicos, mantinha afastada a ideia da criação de uma companhia residente. Propunha-se produzir e co-produzir .
3 O Auditório Nacional de Carlos Alberto acolhia as mais diversas manifestações culturais. Não tinha produção própria, nem, é claro, companhia residente.
4 A Seiva Trupe, que aguardava a construção do teatro da Universidade, apresentava as suas produções no ANCA e na Cooperativa do Povo Portuense. Não tendo companhia residente, reunia os elencos pontualmente para as suas produções.
5 O TEP utilizava, a título precário, o auditório da Casa das Artes para as suas produções, que cada vez menos integravam actores profissionais.

Em 1996 surge um Ministério da Cultura, um Ministro e um Projecto, e uma nova esperança para criadores. Os primeiros cinco meses da nossa existência como grupo de trabalho foram ocupados exclusivamente e a tempo inteiro com um profundo debate de todas estas questões. No fim desse tempo elaboramos o nosso projecto e demos-lhe um nome: Ensemble - Sociedade de Actores.